Facebook, a revista Caras dos não-celebridades



Como é fácil e prazeroso falarmos sobre as nossas qualidades e conquistas! Fazermos crer a todos o quanto somos Super: super-mães, super-trabalhadores, super-saudáveis, super-determinados, super--religiosos, super-tudo! Só tem um problema. Somos também um mar de defeitos que, normalmente, tendemos a esconder ou não queremos ver! As redes sociais que o digam. É uma avalanche de autopromoção sem fim. Pessoas lindas e perfeitas vivendo em seus mundos ricos e perfeitos. E, acreditem, isso faz mal tanto para quem pratica quanto para quem é bombardeado pelas incessantes campanhas de autoafirmação.

Outro dia me deparei com um estudo sobre a “Depressão Facebook” e suas “tendências narcisistas”. O estudo fala apenas das vítimas adolescentes e atribui o problema às horas diante do computador. Eu posso apostar que as duas coisas estão erradas. Não são apenas os adolescentes a sofrer destes males e muito menos que o problema da depressão seja apenas a quantidade de horas que se dedicam às redes sociais. O conteúdo é que é ruim e atinge ainda mais profundamente quando uma pessoa está com a auto estima baixa, o que atinge a todos, independentemente da idade, Ou vai me dizer que você, um adulto racional e minimamente equilibrado, nunca teve seus momentos de fragilidade?

E, neste momento, você entra no Facebook e alguns dos seus “amigos” são os melhores em tudo. Filhos perfeitos, trabalhadores competentes em suas fotos sorridentes no ambiente de trabalho, declarações de amor ao mundo e às pessoas, e você se sente o lixo. Não, você se sente o verme que come o lixo! É como se o mundo esfregasse na sua cara o quão incompetente você é, foi e sempre será. Se você tiver um pouco de bom senso, vai respirar fundo e identificar a tendência narcisista do sujeito do outro lado e se sentirá a salvo. Ao menos não mais como um verme.

Por outro lado, quem expõe os mínimos detalhes da sua tão perfeita vida pessoal pode ter um problema ainda mais sério do que o pobre coitado que se sentiu inferiorizado pela glamourização alheia. Ao se achar o personagem central da revista “Caras” dos não-celebridades, esta pessoa cria não só para os outros, mas principalmente para si, uma imagem tão perfeita dela mesma que é quase impossível deixar de sê-lo. Ela simplesmente precisa reforçá-la a cada minuto de sua vida e faz do próprio celular um paparazzo em ação.

Fotografa-se na academia, comendo, dançando, beijando, entrando no carro, saindo de casa; sinaliza no seu próprio status quando entrou em determinada clínica, hospital, escola, loja, farmácia, banheiro público! Deus do céu e dos infernos, como isso é triste. Desculpe, sei que isso vai ser duro, mas esta pessoa precisa saber que ninguém se interessa por todos os detalhes da sua vida a não ser ela mesma, sua família e poucos amigos realmente próximos. Se é que os tem, porque, juro, sendo assim tão insuportavelmente egocêntrico, tenho cá minhas dúvidas sobre a extensão do seu ciclo de amizades verdadeiras.

Quando algumas pessoas entenderem que não são produtos, talvez deixem de se autopromoverem. Até lá, haja paciência!

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