Quando o melhor na TV é o mensalão...

fotos: ANDRÉ COELHO - O GLOBO
O mês de agosto começou com uma grande atração na TV: o julgamento do mensalão. Mas eu preciso explicar o meu entusiasmo diante das horas monótonas de falatório pomposo. 

Quando se mora no exterior, algumas situações corriqueiras se tornam uma odisséia; como ver televisão, por exemplo. A programação de TV, na Itália, não é melhor do que a dos canais abertos, no Brasil. Às vezes, passa um lixo “assistível”. Outras vezes, melhor nem comentar. Dá até dó de ver. Salvo alguns documentários históricos - eles possuem um acervo de imagens riquíssimo! - e poucos programas científicos investigativos (que estão de férias, infelizmente). Bendita a internet que veio salvar as nossas noites sufocantes desse verão de 40 graus! Para quem tem uma boa conexão em casa, dá para se ver muitos canais, sem contar os filmes online completos, no YouTube, e tantos outros sites de onde se podem baixar seriados, por exemplo.

Mas, agosto, é mês de mensalão! E lá vamos nós diante do computador, com direito a pipoca e Guaraná (comprado em lojas de indianos ou chineses, porque onde moro, não tem nos grandes supermercados), relembrar os bons tempos em que acompanhávamos de perto os acontecimentos na terra do verde e amarelo. No primeiro dia, ligeiro euforismo com o quebra pau entre os ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandoswski. Alguns bons minutos depois, parecia sexo entre octogenários. Dá até pra tentar, mas não vai. Cansa, irrita e quase faz dormir! 

E não é que poderia ficar pior!? Sim, ficou. Com o passar dos dias, as sustentações orais dos advogados de defesa, além de intermináveis, foram se tornando vergonhosas. Não só pelos argumentos de defesa como também pela oratória mesmo. Pareciam crianças diante de uma classe cheia de estudantes e professores, tendo que apresentar o trabalho de casa, em voz alta. Até mesmo Lula, em seus discursos improvisados, faz melhor. Ou talvez, estejamos mais acostumados aos erros de concordância do sempre-eterno-presidente. Sei lá. Mas eu esperava mais dos melhores(!) criminalistas do país, no julgamento político-jurídico mais esperado dos últimos sete anos!

Depois de longas horas de tortura, com direito a menção à novela das oito e futebol, corríamos até o site da Veja online para acompanhar o debate sobre o julgamento. Mas nem isso durou muito. Assisti a dois, depois, falhou alguns dias e nem sei mais se vai continuar. Que pena, era uma das poucas coisas inteligentes que dava pra engolir. E olha que, a essa altura, já são mais de meia noite, por aqui, e lá estamos nós, fíéis aos interesses da nação! 

Falando sério, rapaziada, será que vamos ler nos livros de história política, daqui a algumas décadas, que o maior escândalo de corrupção que este país já viveu, durou mais de sete anos e, no final, nada foi provado? Duvido muito. Mas, infelizmente, o maior escândalo político envolve muitos interesses. Se forem condenados, perde o PT, em ano eleitoral! Se forem absolvidos, perde moral a justiça, nas figuras de Joaquim Barbosa e da Procuradoria Geral. Qual dos lados pesa mais? É o que vamos ver. Sinto que vamos empatar, o que seria o pior placar. Alguns serão condenados, mas não serão os políticos.

E o pior é que o final desta novela real já está escrito, literalmente! Tudo o que estamos vendo, hoje, neste julgamento, é encenação. De péssima qualidade, afinal, mas é verdade. É mera formalidade porque nada disso é novidade para os onze ministros que vão decidir quem paga e quem não paga a conta do mensalão. Os votos deles já estão, não só decididos, como escritos! Eles já conhecem os dois lados e com base nisso, já decidiram para que lado vão apitar. É como um jogo cujo placar já está definido antes de os jogadores entrarem em campo e, mesmo assim, os torcedores vão no estádio com suas bandeiras em punho.

Quer saber? Vou continuar com meus seriados, livros e filme online. Pelo menos, até começarem os próximos caítulos: a leitura dos votos dos ministros. A nova fase deve começar no dia 15/08 e, só pra se ter uma idéia, o primeiro a ler será Joaquim Barbosa, cujo voto tem cerca de mil páginas e deve durar quatro sessões. Espero que ele seja melhor do que os outros porque, senão, nem pipoca e nem guaraná. Vamos precisar mesmo é de viagra!

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