Uma carta para a Morte


“Senhora Morte,

Nunca fomos apresentadas pessoalmente (o que, confesso, não me desagrada tanto) contudo, permita-me tratá-la de um modo menos formal, visto que há mais de quarenta anos ouço falar em você. Em várias ocasiões, inclusive, pude sentir o odor fétido do seu rastro ao levar pessoas muito queridas. A sua passagem, normalmente, deixa um gosto amargo por dias, meses e até anos em todo o nosso ser, tirando totalmente o sentido de todas as coisas!

Os problemas cotidianos tornam-se ínfimos ao perder um amigo, um filho, um pai, um irmão, um avô, um animal de estimação, que seja! Algumas vezes, você leva tantos de uma só vez! Difícil missão a sua, não? E penso se você tem idéia da dor que nos impõe...

Penso em você, porém, como uma ‘coisa’, sem sentimentos, obedecendo as regras da vida, os planos para cada um de nós, ignorantes de quando e como estaremos cara a cara.

Este semana, você levou um colega meu, o Luiz Bosco Sardinha. Eu não o conhecia pessoalmente, dividíamos apenas a mesma paixão pela escrita e o mesmo veículo de difusão de nossas palavras: O Boletim. Fiquei triste.

Fiquei triste pela falta que farão as suas palavras e o seu humor. Fiquei triste pela sua família que não o terá mais por perto. Fiquei triste por sermos tão impotentes diante de você e do seu beijo fatal.

Mas, entendo, cara Morte, que algumas vezes você vem como a única chance de paz; quando o sofrimento de estar vivo é maior do que a dor dos familiares e amigos. E estes a entenderão, embora a amaldiçoarão no início. Entenderão que após a sombra negra e gélida causada pela sua passagem, novos dias de sol surgirão. Novos sonhos, novas idéias, novas alegrias.

O que você nos leva, nunca é substituído, apenas nos habituamos à sua ausência...

Morte, o que eu estou tentando lhe dizer é que... na verdade, não sei. Sinto apenas uma necessidade de conversar com você. De olhar dentro do escuro vazio que há em você e lhe fazer um pedido: Leve as pessoas que amo, os amigos e os colegas que se foram, para um bom lugar.

Sei que não receberei resposta sua e nem de quem se foi e essa é a única arma que temos contra você: a nossa esperança! Esperança de que os nossos caros estão em um lugar melhor do que nós. Esta é a única coisa que você não pode nos tirar.

Concluo tentando entender o que sinto por você. Não a odeio, não a amo, não a quero por perto, mas por ser inevitável, por ter uma das missões mais difíceis aos nossos olhos, a respeito.

Como despedir-me de você? Não lhe mando um abraço, nem um beijo, nem qualquer tipo de saudação. Apenas lhe dirijo o meu olhar, aceno com a cabeça e continuo o meu caminho. Um dia sei que nos encontraremos de verdade, mas não hoje.

Érika”

Comentários

Morte disse…
Resposta a sua Carta:

http://gadanhaonline.blogspot.com/2012/01/caixao-postal.html