Provas de uma vida

Tenho um problema muito sério com fotografias. Na verdade, uma relação ambígua com elas. Adoro fotografar e, às vezes, até ser fotografada. É uma sensação deliciosa eternizar o momento, o lugar, a juventude e a beleza. O problema é olhar para elas depois. Eu não gosto. O pior é que estou mexendo em uma pilha delas, por culpa de uma amiga, e isso está me deixando furiosa!

Olhar para o meu passado, às vezes, me entristece. Quem gosta de ver o quanto envelheceu ou quantos amigos naquela foto da escola já morreram? Eu não. Que sentido tem olhar fotos dos filhos quando eram pequenos, obedientes e estavam do seu lado o tempo todo; de quando um deles caiu pela primeira vez de bicicleta ou de quando aprendeu a andar? Dá uma saudade imensa!

Sou do tipo de pessoa que não tem nenhuma foto na carteira. Nem do marido, nem dos filhos, muito menos dos pais. Tenho amigos que levam toda a família na bolsa, até de quando elas mesmas eram bebê! Tenho uma sensação estranha quando vejo retratos, principalmente muito antigos e bem marcados pelo tempo. Estranha e excitante. Parecem fantasmas esperando o despertar daquela situação constrangedora a qual foram aprisionados. Neste suspiro da história, como cúmplice daqueles rostos, fico esperando que a cena continue e como não acontece, o retrato mexe apenas com a minha imaginação. Posso ficar horas olhando fotos em preto e branco (dos outros!) imaginando suas vidas, seus amores, seus sonhos. Sinto-me ressuscitando a história, aprendendo algo novo, espiando um segredo proibido.

As fotos, para mim, têm a função de contar uma história seja de países, pessoas, eventos ou lugares. Por isso, eu não destruo nenhuma. Estão todas lá, no computador e nos álbuns no alto do armário. Elas contam a minha história, a história dos meus filhos e da minha vida. Mas só faz sentido contá-las aos que não as conhecem, não a mim!

As fotografias são provas de uma vida, para que os outros vejam os momentos que alguém viveu, quando este alguém não estiver por perto!

As fotos não me fazem reviver os momentos, me fazem apenas sentir falta deles porque, normalmente, elas mostram os melhores, mais belos e mais gratificantes períodos de uma vida. Os ruins, sequer foram fotografados ou, se foram, já estão destruídos!

Da próxima vez que uma amiga me pedir para ver fotos dos meus filhos, digo que não tenho e pronto!

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