Despedida

Não conheço ninguém que goste de despedidas. Elas normalmente nos machucam. Não importa se são momentâneas ou por longos períodos. Despedir-se de alguém querido é como ler a última página de um livro; acender as luzes no final de uma sessão de cinema, lamber o chocolate derretido das pontas dos dedos, o não querer acordar de um sonho bom.

Não importa se é amigo, filho, mãe ou irmão. Basta que seja uma pessoa especial - quando o silêncio ao seu lado não é constrangedor, mas um momento de tranquilidade compartilhado - para sentirmos a despedida como um abismo diante dos nossos pés e um vácuo dentro do peito.

Despedir-se de pessoas assim é saber que os dias ficarão menos solares, menos coloridos e menos felizes. É saber que, daquele momento em diante, estamos mais desprotegidos perante os perigos da vida, pois essas pessoas são as nossas linhas guias. Olhar para elas é saber que não estamos e nunca estaremos sós. É saber que, mesmo que peguemos o caminho errado, sempre haverá uma mão a nos puxar.

Despedir-se dessas pessoas, porém, é a chance de dizer coisas que normalmente não damos importância e de agir com transparência e intensidade, pois o próximo encontro é incerto o bastante para nos fazer chorar ainda abraçados, atacados um ao outro num último gesto de comunhão.

Despedir-se de alguém é ter a rara possibilidade de colocar em dia as pendências e guardar as melhores lembranças.

Despedir-se das pessoas queridas dói, mas é preciso. Uma pessoa especial é aquela que está perto o suficiente para te amparar e distante o bastante para te respeitar.

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